Memorial Vale Itinerante leva heranças indígenas e afro-brasileiras para Jaíba

Exposição “Oriará – Arte e Educação em Movimento” apresenta obras de artistas negros e indígenas de diferente regiões do Estado. Mostra chega a Jaíba na quarta-feira, 19 de março, em uma carreta especialmente adaptada para o transporte e a exibição das obras. O Memorial Minas Gerais Vale inaugura no dia 19 de março, quarta-feira, em Jaíba, a exposição “Oriará – Arte e Educação em Movimento” que traz obras de artistas negros e indígenas, representantes de diversas regiões de Minas, propondo reflexões sobre temas como oralidade, território, linguagem, tecnologias e bem viver. A abertura acontece às 9h, na Rua Brasília, no Mercado Municipal de Jaíba, com a presença de Edna Correia de Oliveira, presidente da Federação das Comunidades Quilombolas de Minas Gerais (N’golo). O evento contará também com a apresentação musical “As Lavadeiras”, da Associação Grupo Melhor Idade Jaíba. A mostra, que integra o projeto Memorial Vale Itinerante, está levando arte contemporânea e reflexões sobre as heranças culturais indígenas e afro-brasileiras a 10 cidades mineiras em uma carreta de 15 metros de comprimento, especialmente adaptada para o transporte e a exibição das obras. Além da exposição, Jaíba receberá diversas atividades culturais e educativas durante o período que a mostra permanecerá na cidade. A exposição estará em Jaíba até o dia 30 de março, funcionando de terça a sexta-feira, das 8h às 16h, e aos sábados e domingos, das 10h às 18h.
Com curadoria do Programa Educativo do Memorial Vale, a mostra utiliza a arte como ferramenta de diálogo e encontro, buscando aproximar o público de perspectivas importantes sobre a história coletiva. “A exposição Oriará traz visibilidade à cultura quilombola tão rica e precisa não só para a comunidade mas também para história dos municípios, do Estado e do Brasil” afirma Edna Correia de Oliveira. Como presidente da Federação das Comunidades Quilombolas de Minas Gerais (N’golo), ela defende que a iniciativa tem o potencial de “fortalecer grupos culturais e despertar interesse nos jovens na manutenção das práticas culturais”.
Além da Jaíba, “Oriará” já passou por Belo Horizonte e Congonhas e terá como próximas paradas as cidades de Curvelo, Itabira, São Gonçalo do Rio Abaixo, Barão de Cocais, Brumadinho e Nova Lima. “O Memorial Vale acumula em sua trajetória muitas experiências e práticas que privilegiam as tecnologias e as histórias dos povos originários e afro-brasileiros no território mineiro, como a exposição itinerante Africanidades e Mineiridades, ações com aldeia indígena Katurãma dos povos Pataxó e Pataxó Hã hã Hãe, a instalação educativa Sementes da Diáspora, dentre outras. A exposição Oriará oferece uma oportunidade única de conhecer a produção artística contemporânea mineira e aprofundar o conhecimento sobre as culturas indígenas e afro-brasileiras”, explica Wagner Tameirão, gestor do Memorial Vale. “Ori” é uma palavra que vem do Yorubá, cujo significado literal é cabeça. É raiz da palavra Orixá, que designa divindades africanas cultuadas nos territórios brasileiros. Pode-se considerar que “Ori” se refere a um orixá que vive dentro das nossas cabeças, manifestando-se como uma faísca de vida que nos habita. “Ará”, conforme o dicionário Tupi-Guarani, tem alguns significados: dia, sol, nascer, surgir, todo ser vivente, tempo. “Oriará” abre caminhos para a transmissão de conhecimentos e compartilhamento de ideias, volta-se aos modos de vida e à própria presença dos povos indígenas e afro centrados.
Para traduzir o conceito da exposição Oriará, a curadoria estabeleceu três eixos fundamentais: Cotidianos, com reflexões sobre o modo de viver e meio em que se vive; (Re)Existências, com estratégias para viver e existir, e Futuros, com elaborações sobre um futuro abundante construído a partir da ancestralidade. Tais eixos representam distintos pontos de partida para as discussões e os diálogos propostos, relativos à força e à importância das presenças indígenas e afro-brasileiras na sociedade.
Obras e artistas
A exposição “Oriará” apresenta um conjunto diversificado de obras que exploram diferentes linguagens e abordagens, conectando o público com as ricas heranças culturais presentes em Minas Gerais. Edgar Kanaykõ Xakriabá, indígena Xacriabá e mestre em Antropologia, utiliza a fotografia como ferramenta de expressão, compartilhando momentos de cuidado, jogos e cultos de seu povo. A obra “Hemba” (fotografia sobre tecido) tensiona preconceitos e visões enrijecidas sobre os povos indígenas, revelando a importância de seus territórios.
Os Tikmũ’ũn, da Aldeia Escola Floresta Maxakali no Vale do Mucuri, apresentam a obra imersiva “O Que Tem na Roça” (animação digital, desenhos em caneta hidrocor e lápis de cor sobre papel). A obra retrata a diversidade de plantas cultivadas na aldeia e denuncia a destruição da mata, preservando saberes e memórias ancestrais.
Froiid, artista multidisciplinar, aborda o cotidiano popular a partir dos jogos. A obra “Os Petelecos” são jogos de tabuleiro feitos com madeira e pregos, que, na obra do artista, assumem vários formatos. Por meio da arte de jogar, o artista traz ao público um pouco da cultura periférica, de ruas e becos que dialoga fortemente com as heranças afro-indígenas de nosso país a partir dos ditos populares e regras de ser e pertencer a uma comunidade.
O artista visual Marcel Dyogo apresenta “Já Quase Esqueci Seu Nome” (caixas de papelão, papel manteiga e iluminação), uma obra sensível que questiona o apagamento de informações sobre as comunidades indígenas em Minas Gerais. As caixas reunidas formam conjuntos com nomes das 14 comunidades indígenas existentes no Estado.
Dayane Tropicaos, artista visual de Contagem, discute questões de gênero, raça e classe em suas obras. A instalação “Abre Caminho” (uniformes, serigrafia e vídeo) questiona os lugares impostos a populações subalternizadas na sociedade brasileira. A obra é composta por 10 uniformes de trabalho que referem-se a diversas ocupações profissionais que são vistas na sociedade como desvalorizadas.
Jorge dos Anjos, com formação na Fundação de Arte de Ouro Preto, transita entre desenho, pintura, escultura e design. “Obra” (pintura sobre lona de caminhão) combina símbolos geométricos e escritas ancestrais, conectando passado e presente. Jorge intersecciona temporalidades que abarcam a genialidade e o requinte técnico desenvolvido pelos povos negros, incluindo a rede de comunicação estabelecida em diáspora, quando suas identidades se ressignificaram no Brasil.
Finalmente, o “Varal dos Saberes” é uma obra interativa que convida o público a refletir sobre os eixos curatoriais da exposição através de perguntas, imagens e um mapa digital com informações sobre a ocupação territorial de Minas Gerais por povos indígenas e comunidades quilombolas. Nesta obra os eixos curatoriais se manifestam a partir de seis perguntas, em que a curadoria oferece um grupo de palavras e imagens de celebrações, alimentos e experiências relacionadas aos povos indígenas e quilombolas.
Exposição Oriará leva atividades culturais para Jaíba
A itinerância da Exposição Oriará – Arte e Educação em Movimento levará a Jaíba (MG) uma programação diversa e gratuita. Entre os dias 17 e 30 de março, a cidade receberá encontros formativos, oficinas, apresentações culturais e visitas mediadas, todas conectadas à valorização da cultura afro-brasileira, quilombola e indígena. Parte das atividades contam com acessibilidade em Libras e acontecem na Rua Brasília, no Mercado Municipal de Jaíba.
Os Encontros com Professores acontecem nos dias 17 de março (segunda-feira), das 8h às 12h, no Projeto Vida (Av. Joaquim de Souza Coutinho, n° 70, bairro São Francisco), e 18 de março (terça-feira), das 18h às 20h, Centro de Eventos (Rua Valdomiro Cardoso de Sá, nº10.), oferecendo formação sobre oralidade, território, linguagem, tecnologias e bem viver, com foco em práticas pedagógicas antirracistas. Durante as atividades, também serão apresentados os cadernos Oriará, material didático voltado para estudantes e educadores. As inscrições são gratuitas pelo WhatsApp: (31) 8223-7433. Vagas limitadas e sujeitas à lotação.
A criançada também terá espaço garantido na programação com as Visitas Brincantes, que ocorrerão nos dias 22 de março (sábado), 23 de março (domingo), 29 de março (sábado) e 30 de março (domingo), das 10h às 11h. Com roteiros lúdicos e acessíveis, a atividade estimula o público infantil e seus acompanhantes a explorarem as histórias das culturas negras e indígenas.
Já nos mesmos dias, no período da tarde, acontece a Oficina de Máscaras Afrofuturistas, inspirada na obra de Jorge dos Anjos. A atividade propõe uma reflexão sobre o afrofuturismo na arte e convida os participantes a criarem suas próprias máscaras com estéticas e formatos inspirados na produção do artista. As oficinas acontecem nos dias 22 de março (sábado), 23 de março (domingo), 29 de março (sábado) e 30 de março (domingo), das 14h às 15h. As visitas e a oficina tem entrada gratuita, direcionada a diferentes faixas etárias, e não necessita de agendamento. Ambas ações tem acessibilidade em Libras.
As manifestações culturais também marcam presença na itinerância. No dia 22 de março (sábado), às 11h, a Folia de Reis da Associação Grupo Melhor Idade de Jaíba traz um dos mais tradicionais festejos da região. No dia 23 de março (domingo), às 16h, é a vez do Quilombo dos Gurutubanos apresentar a Dança com o Pote, uma expressão ancestral quilombola que simboliza luta e resistência.
A tradição também segue no dia 29 de março (sábado), às 11h, com a apresentação do Grupo de Batuque Quilombola, que traz a histórica dança de celebração dos quilombos do Gorutuba. No mesmo dia, às 16h, a Associação Jaibense de Capoeira Arte de Minas promove uma roda aberta de capoeira, sob orientação do professor Valdivino Gancho.
Finalizando a programação, no dia 30 de março (domingo), às 11h, a Associação de Capoeira Raízes da Arte Negra, com mediação do professor Gilberto Silva, encerra as atividades com mais uma roda de capoeira.
Memorial Vale Itinerante
“Oriará – Arte e Educação em Movimento” integra uma etapa da renovação do Memorial Vale, que, enquanto realiza a revitalização de sua sede, continua com sua programação através do projeto Memorial Vale Itinerante. “Estamos levando a essência do Memorial para outros espaços, garantindo que o público continue a ter acesso às atividades culturais gratuitas e relevantes, enquanto são realizadas as intervenções de requalificação, como a criação de novas estruturas de acessibilidade e áreas para atender a multipúblicos, com o objetivo de valorizar ainda mais o prédio que abrigou a antiga Secretaria de Estado da Fazenda. Com exposições como esta, estamos cumprindo nosso papel de difundir conhecimento e promover experiências transformadoras”, afirma Wagner Tameirão, gestor do Memorial Vale.
Além da mostra “Oriará”, o Memorial Vale Itinerante conta com outras iniciativas. Entre elas, o Quintal do Memorial que leva à Praça da Liberdade uma série de atividades culturais e educativas.
Memorial Minas Gerais Vale
Um dos espaços culturais que integram o Instituto Cultural Vale, o Memorial Vale faz parte do complexo cultural Circuito Liberdade, em Belo Horizonte. De 2010, ano de sua inauguração, até julho de 2024, o espaço recebeu mais de 1,5 milhão de pessoas. São mais de 3 mil eventos realizados, 106 exposições, quase 9 mil escolas e grupos atendidos e cerca de 240 mil pessoas recebidas em visitas mediadas.
Atualmente, o edifício-sede que abriga o espaço passa por obras de renovação para adotar uma nova estratégia de ocupação museográfica e infraestrutural. Criada a muitas mãos, a nova expografia permanente tem a curadoria de Isa Ferraz e Marcelo Macca e fará uma mistura inédita de obras de arte, objetos históricos e peças audiovisuais criadas especialmente para o Museu, propondo um diálogo entre o ontem, o hoje e o amanhã no qual o visitante é o protagonista.
SERVIÇO
ORIARÁ: ARTE E EDUCAÇÃO EM MOVIMENTO
Obras de Edgar Kanaykõ Xakriabá, Aldeia Floresta Maxakali, Froiid, Marcel Dyogo, Dayane Tropicaos e Jorge dos Anjos, com curadoria e mediação do Programa Educativo do Memorial Minas Gerais Vale.
Abertura: 19 de março, quarta-feira, às 9h
Local: Rua Brasília no Mercado Municipal de Jaíba
Visitação: de 19 a 30 de março. Terça à sexta das 8h às 16h. Sábados e domingos das 10h às 18h.
Mais informações: www.memorialvale.com.br / @memorialvale
Entrada gratuita